Os anúncios de telecomunicações, mais do que quaisquer outros, tendem a querer dizer-nos quem somos e como devemos ser. Pelo tipo de símbolos e linguagem que usam são claramente mais dirigidos às camadas jovens (as grandes consumidoras de comunicações móveis), também aquelas cuja identidade está menos firmada. Tudo isto torna especialmente interessante a análise dessas mensagens.
O anúncio da "Random Generation" define a geração entre, talvez, os 15-25 anos como aleatória, aleatorizada ou aleatorizante e fá-lo através de associações livres de palavras partindo de frases chavão típicas de pais de moral (vagamente) conservadora. "Não venhas tarde" e "vai para o teu quarto" transformam-se em "não venhas no teu quarto" (vendo bem, frases talvez não tão aleatórias). Criam-se portanto significados vazios e outros nem tanto, mas ainda assim pouco importantes.
Ora, todo o discurso publicitário é neutralizante à partida. mesmo que ouse tentar ser outra coisa, ele implode à nascença. Nunca pode ser revolucionário. É incapaz de fazer um corte ontológico. É essa a sua natureza.
Mas esta campanha em particular tem algo mais, ela é "meta-neutralizante". Alimenta-se do próprio efeito criado nos jovens pela exposição crónica a este discurso asséptico e vazio da publicidade.
Quem cria uma campanha publicitária inspira-se nos grupos-alvo que pretende atingir. Nesta situação, achou-se que o conceito de "randomness" colaria bem no público-alvo (jovens).
O que eu pretendo dizer é que esta campanha mostra o encerramento de um circuito: as agências publicitárias modelam o seu trabalho a uma população jovem que neste momento já está também ela totalmente modelizada à partida pela publicidade. Gerou-se um círculo vicioso.
Esta é a geração neutra, que não visa a nada. Uma espécie de sopa primordial de sentido, onde os símbolos passam uns pelos outros, interagem por instantes e logo se separam para prosseguir um trajecto imprevisível no vazio. Esta geração assim pintada é a metáfora do próprio discurso publicitário. Um espaço onde tudo é possível mas onde nada significa verdadeiramente nada.